"Na literatura há artistas e ênfase para tudo, essa diversidade é fabulosa”

Nascida no Rio de Janeiro, a poeta e escritora Ilana Eleá é formada em Pedagogia, tendo mestrado e doutorado em Educação pela PUC-Rio. Mora na Suécia desde 2011, com o marido e dois filhos, e vem se destacando no ativismo literário e pelo fomento à leitura e pelos livros que vem lançando. Publicou “Encontros de neve e sol” (e-galáxia, 2018; Capire Edizioni, 2019), “Poemas Acesos” (publicação bilíngue português-italiano pela Patuá, com tradução de Giacomo Falconi, 2020) e “Emma e o sexo” (e-galáxia, 2021). Juntamente com Angela Brandão e Lucelena Ferreira, lançou “Fios de corte” (7 Letras, 2021) na qual criaram textos a partir do Chile, Suécia e Brasil, onde respectivamente vivem, que dialogam entre si, abordando sexualidade, vida emocional, amor e família. Pelo projeto biblioteca infantil aberta ao público no jardim da sua casa em Estocolmo recebeu em 2018 o Prêmio Bättre Stadsdel como promotora de cultura. Ela falou disso tudo em entrevista para o Potiguar Notícias. Confira:

Você publicou pela Editora Patuá, em edição bilíngue português-italiano, um elogiado livro, o "Poemas Acesos". Como foi o processo de escrita das poesias e de publicação do livro?


Ao começar a viver na Suécia, a condição de imigrante em um país com língua estrangeira (eu disse extraterrena?) me caiu como areia aos olhos. Ainda que no privilégio da condição de emigrar por escolha e por amor, a travessia Brasil-Suécia foi dando um apertado no meu peito, um sufocado na garganta. As frases perdidas, exaustas e afogando dentro da boca de tanto tentarem traduzir-se. A escrita em prosa não era mais suficiente para a minha dor. Fui buscar abrigo nos versos, acendê-los como velas para enxergar melhor o que carregava dentro do peito. “Poemas Acesos” é separado por diferentes seções, cada uma delas marcada por uma tipologia para o acender-se. O livro começa com “Velas Caseiras”, quando o cotidiano doméstico de um inverno interminável pesa e confunde a criatividade, o saber de si. Um dos poemas mais simbólicos é o que abre a publicação, “Ice fog”, quando o eu lírico se questiona: “É o ice fog/ você já ouviu falar que o ar/ grita e paralisa/ se lhe tiram o pulmão?”

É a partir dessa paralisia que “Poemas Acesos” se desdobra e se refaz por um caminho confuso de saudade e tentativa de reconhecimento, de “tentar morada no silêncio tenor da neve”. A maternidade, amizade e libido aparecem confundidas com pedidos de socorro, o trânsito pela vida em pulsando, multiplicada, uma força e fogo para que o reconhecer-se nas grutas amansasse a alma.

Depois de ter sido abatida por uma forte depressão, os versos se mancham de fármacos e internações em hospitais psiquiátricos, são as “Velas de Agonia” e “Velas Medicinais” queimando, um cotidiano alterado por alucinações. O eu lírico aqui sofre de uma insistente "insônia de si” até que as “Velas Mediterrâneas" abrem novos caminhos, nossa fuga em família para um ano na Toscana, com seus ciprestes coroando um sol disponível, vivo e constante como os abraços da cultura vizinha, um manto de cura.

“Poemas Acesos” tem a capa extraordinária da pintora Martha Werneck, a artista também assina o posfácio. Vera Lúcia de Oliveira, uma das minhas poetas favoritas, presenteia o livro com o prefácio, motivo de encantamento e brinde. A tradução do Giacomo Falconi entrega os versos na língua sonhada italiana, lugar de deleite: a fantasia!

"A expressão artística em si, independente do uso, cumpre o seu papel social porque precisamos existir também pelo simbólico, enigmático, encontrar as profundezas do sentimento, dizer de uma outra forma.”

potiguarnoticias.com.br

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